Atresia de esôfago com fístula do segmento distal para a árvore tráqueo brônquica.
Recém Nascido(RN) encaminhado de outro serviço para a UTI Neonatal do Caism. Dados maternos descrevem a mãe com hipertensão e diabetes gestacional, sem diagnóstico pré-natal de malformações fetais. RN nasceu de parto cesárea por sofrimento fetal agudo, com IG de 30 semanas e peso de nascimento com 875g. Não precisou de reanimação, deixado inicialmente em CPAP. Foi submetido à intubação para realização de surfactante. Tentado progredir sonda gástrica, sem sucesso. Todas as imagens apresentadas foram realizadas no Serviço de onde RN foi encaminhado.
Figura 1 - Radiografia de tórax e abdome realizada em decúbito dorsal com raios verticais.
A análise técnica desta radiografia evidencia que não houve demarcação da área corporal do RN expondo o RN à radiação desnecessária.
O tórax também encontra-se obliquado o que pode ser evidenciado pela assimetria das clavículas e arcos costais.
Os pulmões estão hiperinsuflados provavelmente devido à ventilação mecânica.
A hemicúpula diafragmática direita deve estar visível no nível do oitavo arco costal posterior direito quando os pulmões estão normoinsuflados.
A extremidade da cânula endotraqueal é visibilizada na altura do corpo vertebral de T2, um pouco abaixo da localização desejável (corpo vertebral de T1).
A extremidade do cateter umbilical venoso é visibilizada na altura do corpo vertebral de T9 estando, portanto adequadamente posicionada.
A análise do parênquima pulmonar evidencia uma granularidade difusa e discreta sendo estes achados radiológicos compatíveis com Doença da Membrana Hialina (DMH).
Não há opacidades alveolares sugestivas de pneumonia e tampouco derrame pleural.
A imagem tímica está involuída (involução acidental ou por stress). A largura da imagem tímica deve ser medida no nível do terceiro corpo vertebral dorsal e deve ter pelo menos o dobro da largura deste corpo vertebral para estar dentro dos parâmetros normais.
Observa-se no terço superior do tórax e região cervical imagem alargada, com densidade de ar, sugestiva de dilatação do segmento proximal do esôfago.
No abdome evidencia-se presença de ar em todo o tubo digestivo.
Face aos achados radiológicos e à história clínica do RN a hipótese diagnóstica que deve ser levantada é de atresia de esôfago do Tipo C, com presença de fístula entre a traquéia ou brônquio principal e o segmento distal do esôfago.
Figura 2 Radiografia de tórax de controle
Identificada novamente a dilatação do segmento proximal do esôfago em fundo cego, reforçando a hipótese diagnóstica levantada anteriormente.
Figura 3 Radiografia de tórax e abdome superior após contraste via oral.
Identificado contraste no segmento proximal do esôfago, que se apresenta dilatado e em fundo cego, confirmando a presença de atresia de esôfago do Tipo C.
Em relação à forma de investigação radiológica para se confirmar o diagnóstico de atresia de esôfago, uma ressalva a fazer no presente caso é de que não há necessidade de usar contraste no segmento proximal do esôfago, pelo risco de aspiração para a árvore tráqueo brônquica. A forma mais adequada para realizar esta investigação radiológica e com segurança para o RN é opacificar previamente a sonda com contraste e depois introduzi-la no esôfago. O diagnostico radiológico será dado pela extremidade da sonda enovelada no segmento proximal do esôfago que apresenta fundo cego. Também pode-se introduzir ar através da sonda e radiografar depois. Será identificada a dilatação aérea do segmento proximal do esôfago e a ponta da sonda junto ao fundo cego. Toda a investigação radiológica pode ser realizada na UTI Neonatal.
Sugestão de leitura complementar:
1. Alvares BR, Pereira ICMR, Araujo Neto SA, Sakuma ETI. Achados normais no exame radiológico de tórax do recém nascido. Radiol Bras 2006:39(6):435-40.
2. Swischuk LE. Imaging of the Newborn , Infant and Young Child. Fifth EdLippincott Williams& Wilkins; Philadelphia, USA, 2004.
3. Beatriz Regina Alvares, Mariana Chiaradia Dominguez. Avaliação da radiografia de tórax no Recém - Nascido. PRORAD, Ciclo 5, Volume1. 2015. p 107- 153