Atresia de esôfago com fístula do segmento distal para a árvore tráqueo brônquica.

Jul de 2020.

Recém Nascido(RN) encaminhado de outro serviço para a UTI Neonatal do Caism. Dados maternos descrevem a  mãe com hipertensão e diabetes gestacional, sem diagnóstico pré-natal de malformações fetais. RN nasceu de parto cesárea por sofrimento fetal agudo, com IG de 30 semanas e peso de nascimento com 875g. Não precisou de reanimação, deixado inicialmente em CPAP. Foi submetido à intubação para realização de surfactante. Tentado progredir sonda gástrica, sem sucesso.  Todas as imagens apresentadas foram realizadas no Serviço de onde RN foi encaminhado.

 

Figura 1 - Radiografia de tórax e abdome realizada em decúbito dorsal com raios verticais.  

A análise técnica desta radiografia evidencia que não houve demarcação da área corporal do RN expondo o RN à radiação desnecessária.

O tórax também encontra-se obliquado o que pode ser evidenciado pela assimetria das clavículas e arcos costais. 

Os pulmões estão hiperinsuflados provavelmente devido à ventilação mecânica.

A hemicúpula diafragmática direita deve estar visível no nível do oitavo arco costal posterior direito quando os pulmões estão normoinsuflados.

A extremidade da cânula endotraqueal é visibilizada na altura do corpo vertebral de T2, um pouco abaixo da localização desejável (corpo vertebral de T1).
A extremidade do cateter umbilical venoso é visibilizada na altura do corpo vertebral de T9 estando, portanto adequadamente posicionada. 

A análise do parênquima pulmonar evidencia uma granularidade difusa e discreta sendo estes achados radiológicos compatíveis com Doença da Membrana Hialina (DMH).

Não há opacidades alveolares sugestivas de pneumonia e tampouco derrame pleural.

A imagem tímica está involuída (involução acidental ou por stress). A largura da imagem tímica deve ser medida no nível do terceiro corpo vertebral dorsal e deve ter pelo menos o dobro da largura deste corpo vertebral para estar dentro dos parâmetros normais. 

Observa-se no terço superior do tórax e região cervical imagem alargada, com densidade de ar, sugestiva de dilatação do segmento proximal do esôfago.  

No abdome evidencia-se presença de ar em todo o tubo digestivo.

Face aos achados radiológicos e à história clínica do RN a hipótese diagnóstica que deve ser levantada é de atresia de esôfago do Tipo C, com presença de fístula entre a traquéia ou brônquio principal e o segmento distal do esôfago.

 

Figura 2 Radiografia de tórax de controle

Identificada novamente a dilatação do segmento proximal do esôfago em fundo cego, reforçando a hipótese diagnóstica levantada anteriormente.

 

Figura 3 Radiografia de tórax e abdome superior após contraste via oral.

Identificado contraste no segmento proximal do esôfago, que se apresenta dilatado e em fundo cego, confirmando a presença de atresia de esôfago do Tipo C.


Em relação à forma de investigação radiológica para se confirmar o diagnóstico de atresia de esôfago, uma ressalva a fazer no presente caso é de que não há necessidade de usar contraste no segmento proximal do esôfago, pelo risco de aspiração para a árvore tráqueo brônquica. A forma mais adequada para realizar esta investigação radiológica e com segurança para o RN é opacificar previamente a sonda com contraste e depois introduzi-la no esôfago. O diagnostico radiológico será dado pela extremidade da sonda enovelada no segmento proximal do esôfago que apresenta fundo cego. Também pode-se introduzir ar através da sonda e radiografar depois. Será identificada a dilatação aérea do segmento proximal do esôfago e a ponta da sonda junto ao fundo cego. Toda a investigação radiológica pode ser realizada na UTI Neonatal.

 

Sugestão de leitura complementar:

1. Alvares BR, Pereira ICMR, Araujo Neto SA, Sakuma ETI. Achados normais no exame radiológico de tórax do recém nascido. Radiol Bras 2006:39(6):435-40.  

2. Swischuk LE. Imaging of the Newborn , Infant and Young Child. Fifth EdLippincott Williams& Wilkins; Philadelphia, USA, 2004.  

3. Beatriz Regina Alvares, Mariana Chiaradia Dominguez. Avaliação da radiografia de tórax no Recém - Nascido. PRORAD, Ciclo 5, Volume1. 2015. p 107- 153

 

 

 

LOBO, Bárbara Barros Pereira ALVARES, Beatriz Regina. Atresia de esôfago com fístula do segmento distal para a árvore tráqueo brônquica.. Dr.Pixel. Campinas: Dr Pixel, 2020. Disponível em: https://drpixel.fcm.unicamp.br/conteudo/atresia-de-esofago-em-recem-nascido-diagnostico-radiologico. Acesso em: 24 Abr. 2024
Bárbara Barros Pereira Lobo

Médica residente R4, sub especialidade em Neonatologia, Departamento de Pediatria FCM, Unicamp.

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Beatriz Regina Alvares

Possui Graduação em Medicina pela Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (1972), Especialista em Radiologia pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (1977), Mestrado em Medicina (Radiologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988), Doutorado em Medicina (Radiologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994) e Pós Doutorado em Radiologia Neonatal e Imaginologia Mamária no Kings College Hospital, University of London, UK ( 1998-2000). Atualmente é Professora Doutora Nível -MS3.2 da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas-FCM/UNICAMP, atuando principalmente nas seguintes áreas: Mamografia e Radiologia Neonatal .

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