Mola Hidatiforme Completa

Mar de 2021.

Caso clínico

Gestante de 32 anos, com idade gestacional de 17 semanas e 6 dias pela amenorreia incerteza, queixando-se de sangramento vaginal há 2 dias. Ao exame físico, evidenciada altura uterina aumentada para a idade gestacional. Portava ultrassonografia de serviço externo com evidências sugestivas de gestação molar. Solicitada nova ultrassonografia para avaliação em centro terciário.

Achados de imagem

Útero de dimensões aumentadas com volume de 497 cm³. Na cavidade uterina, evidenciado conteúdo heterogêneo, hiperecogênico, com áreas císticas de permeio (sinal do “cacho de uvas” ou da “tempestade de neve”) e fluxo presente no estudo com Doppler.

Figura 1: Ultrassonografia pélvica transvaginal demonstrando útero de dimensões aumentadas, e conteúdo hiperecogênico na cavidade uterina com áreas císticas de permeio.

 

Figura 2: Ultrassonografia pélvica com Doppler colorido e espectral demonstrando massa intrauterina multicística com vascularização aumentada e sem partes fetais evidentes.

 

Hipótese Diagnóstica: Mola hidatiforme completa.

Patologia:

A mola hidatiforme completa (MHC) é o resultado da fecundação de um óvulo sem núcleo ativo, o que significa que todos os genes na MHC são de origem paterna (dissomia uniparenteral). Entre as MHC, 90% tem cariótipo 46, XX e os 10% restantes, 46 XY.

Apresentação clínica

Em boa parte dos casos, o diagnóstico é efetuado em mulheres assintomáticas, por exames da rotina pré-natal. Entre os casos sintomáticos, sangramento é a queixa mais comum, sendo usualmente observado entre a 6ª e 16ª semana de gestação, assim como aumento desproporcional do tamanho uterino e hiperemese. Eliminação de vesículas, embora seja um sinal muito específico, é raramente referido pelas pacientes. A dosagem sérica de beta-HCG é significativamente elevada, fora das proporções da gestação.

Epidemiologia

Mola hidatiforme é uma das complicações mais comuns da gestação, estimada em ocorrer em 1:1000-2000 gestações. Podem ocorrer em gestantes de qualquer idade, mas é mais frequente em adolescentes e na faixa etária de 40-50 anos. A prevalência é relativamente maior na Asia que no Ocidente.

Achados de imagem

- Ultrassonografia: modalidade de escolha para avaliação inicial.

  • Aumento do volume uterino.
  • Massa intrauterina heterogênea, predominantemente ecogênica, com múltiplos focos hipoecogênicos de permeio (sinal “tempestade de neve”). Também notadas áreas anecóicas císticas de permeio, com dimensões entre 1 a 30 mm, sem partes fetais, (sinal do“cacho de uvas”).
  • Cistos teca-luteínicos bilaterais podem ser encontrados.
  • Fluxo presente e de baixa impedância ao estudo Doppler.

- Tomografia computadorizada:

Geralmente não indicada devido a sua baixa resolução. Pode demonstrar útero de volume aumentado com focos hipoatenuantes circundadas por miométrio que acentuada realce pelo meio de contraste.

- Ressonância magnética:

Pode demonstrar massa heterogênea com espaços císticos distendendo a cavidade uterina. Não há partes fetais.

  • T1: útero pode contar áreas de hiperssinal correspondentes a focos hemorrágicos.
  • T2: útero com massa heterogênea com hiperssinal dos espaços císticos.
  • T1 + Gd: frequentemente demonstra massa com hiperrealce ao meio de contraste devido à hipervascularização.

A ressonância magnética também pode demonstrar os cistos teca-luteínicos bilaterais.

Diagnósticos diferenciais

O diagnóstico diferencial deve ser feito com outras massas intrauterinas durante a gestação. São elas: abortamento incompleto, mola hidatiforme parcial (incompleta) e neoplasia trofoblástica gestacional.

Tratamento e prognóstico

Quando há suspeita ultrassonográfica ou clínica de MHC, o conteúdo da cavidade uterina deve ser esvaziado, inicialmente por vácuo-aspiração complementada com curetagem. O material deve ser enviado para análise histopatológica.

O seguimento deve ser feito com dosagem seriada de beta-HCG e com exame clínico adequado, já que a MHC é uma lesão pré-maligna e pode degenerar em neoplasia trofoblástica gestacional em 10-20% dos casos.

Referências:

1. Reuter K, Michlewitz H, Kahn PC. Early appearance of hydatidiform mole by ultrasound. AJR Am J Roentgenol. 1980;134 (3): 588-9. 

2. Benson CB, Genest DR, Bernstein MR et-al. Sonographic appearance of first trimester complete hydatidiform moles. Ultrasound Obstet Gynecol. 2000;16 (2): 188-91. 

3. Fowler DJ, Lindsay I, Seckl MJ et-al. Routine pre-evacuation ultrasound diagnosis of hydatidiform mole: experience of more than 1000 cases from a regional referral center. Ultrasound Obstet Gynecol. 2006;27 (1): 56-60.

4. Akram M. Shaaban, Maryam Rezvani, Reham R. Haroun, Anne M. Kennedy, Khaled M. Elsayes, Jeffrey D. Olpin, Mohamed E. Salama, Bryan R. Foster, and Christine O. Menias. Gestational Trophoblastic Disease: Clinical and Imaging Features. RadioGraphics 2017 37:2, 681-700.

 

 

BORELLA, Luiz. WERTHEIMER, Guilherme. Mola Hidatiforme Completa. Dr.Pixel. Campinas: Dr Pixel, 2021. Disponível em: https://drpixel.fcm.unicamp.br/conteudo/mola-hidatiforme-completa. Acesso em: 19 Abr. 2024
Luiz Borella

Graduado em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (2013-2018). Atualmente, médico residente em Radiologia e Diagnóstico de Imagem na UNICAMP (2020-2023).

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Guilherme Soares de Oliveira Wertheimer

Possui graduação em Ciências Biológicas-Modalidade médica pela Universidade Federal de São Paulo (2007-2010) com ênfase em Neurociências. Graduação em Medicina na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (2012-2017) com cursos internacionais, trabalhos extracurriculares e de iniciação científica em Neuroimagem. Atualmente residente de Radiologia e Diagnóstico de Imagem na UNICAMP (2019-2022).

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