Atresia jejunal

Ago de 2020.

Recém Nascido (RN) com Idade gestacional (IG) de 33 semanas e 4 dias. Peso ao nascer de 1885g. Parto cesárea por sofrimento fetal agudo. O US pré-natal evidenciou estreitamento duodenal e intensa dilatação líquida das primeiras alças intestinais. Nasceu com Apgar 9/10, sendo deixado em jejum, com sonda orogástrica (SOG) aberta.

 

Figura 1 Radiografia de tórax e abdome (AP) realizadas com duas horas de vida.

Radiografia de tórax e abdome realizada em decúbito dorsal com raios verticais. As estruturas torácicas não apresentam alterações significativas.  Presença de pequena quantidade de ar no estômago, visível à esquerda das últimas vértebras dorsais e primeiras lombares. Do lado direito da coluna toracolombar observa-se imagem arredondada, com densidade de ar, relacionada à  dilatação da primeira porção duodenal. Acima da pequena pelvis, também pode ser visibilizada presença de alça intestinal distendida por ar, devendo corresponder ao jejuno. Não se observa presença de ar nas demais alças intestinais. A extremidade da sonda orogástrica é visibilizada junto à parede da grande curvatura gástrica em posição inadequada, devendo ser realocada.

 

Figura 2 - Radiografia de tórax e abdome (Perfil) realizada com duas horas de vida.

Radiografia de tórax e abdome realizada em decúbito dorsal com raios horizontais.  Nesta radiografia observam-se 3 imagens com níveis hidro aéreos e que correspondem ao estômago, duodeno e primeira porção jejunal, os mesmos segmentos do tubo digestivo visibilizados na figura 1. Ausência de ar nas demais alças intestinais.

 

 

Figura 3- Radiografia de tórax e abdome (AP) realizada com 10 horas de vida, após introdução de ar no estômago pela sonda orogastrica.

Nesta radiografia, é possível evidenciar significativa dilatação aérea do estômago, duodeno e primeira porção jejunal, configurando o sinal da tripla bolha. Não se observa presença de ar nas demais alças intestinais.

 

Figura 4 - Radiografia de tórax e abdome (Perfil) realizada com 10 horas de vida, após introdução de ar no estômago pela sonda orogastrica.

 

Radiografia realizada em decúbito dorsal com raios horizontais evidencia as tres alças intestinais distendidas e com níveis hidroaéreos.  O quadro radiológico configura uma obstrução intestinal alta, sendo a hipótese diagnóstica mais provável atresia jejunal.

 

Considerações sobre o caso


Obstruções intestinais altas representam os quadros obstrutivos que envolvem o estômago, duodeno, jejuno e íleo proximal. As principais causas são atresias, estenoses, pâncreas anular e má rotação intestinal, que pode ser acompanhada por volvo intestinal. O quadro clínico caracteriza-se por vômitos biliosos e distensão abdominal quando a obstrução for distal ao jejuno.

A investigação radiológica deve incluir radiografias simples de abdome com raios verticais e horizontais, devendo ser realizadas com o RN em decúbito dorsal. A investigação adicional inclui a introdução de pequena quantidade de ar no estômago através de sonda gástrica com realização de radiografias simples de abdome, que evidenciam as alças intestinas dilatadas (radiografia com raios verticais) e com níveis hidro aéreos (radiografia com raios horizontais), bem como ausência de ar além do nível da obstrução intestinal. Esta investigação radiológica pode ser realizada na UTI neonatal. 
Caso seja realizado, o clister opaco deve ser feito no Setor de Radiologia do hospital. Este exame radiológico contrastado irá evidenciar microcolon por desuso, caracterizado pelo diâmetro reduzido dos segmentos colônicos em contraste com as alças intestinais obstruídas e dilatadas. No caso de má rotação intestinal o clister opaco também pode evidenciar a localização anormal do ceco e cólon ascendente na cavidade abdominal, alterações decorrentes das anomalias de rotação e fixação do tubo digestivo. No presente caso foram levados em consideração os aspectos radiológicos característicos de atresia jejunal em correlação com os dados clínicos do RN, não sendo então realizado o clister opaco. 

O RN foi submetido à laparotomia exploradora que confirmou a atresia jejunal com dilatação intestinal à montante.

 

Sugestões de leitura complementar:

 1. Swichuck LE. Imaging  of the Newborn, Infant and Youg Child. Fifth Ed.   Lippincott Williams & Wilkins; Philadelphia, USA, 2004.

 2. Atresia do trato gastrointestinal: avaliação por métodos de imagem. Radiol Bras vol 38(2): mar/abr 2005.

ALVARES, Beatriz Regina LOBO, Bárbara Barros Pereira. Atresia jejunal. Dr.Pixel. Campinas: Dr Pixel, 2020. Disponível em: https://drpixel.fcm.unicamp.br/conteudo/atresia-jejunal. Acesso em: 24 Abr. 2024
Beatriz Regina Alvares

Possui Graduação em Medicina pela Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (1972), Especialista em Radiologia pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (1977), Mestrado em Medicina (Radiologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988), Doutorado em Medicina (Radiologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994) e Pós Doutorado em Radiologia Neonatal e Imaginologia Mamária no Kings College Hospital, University of London, UK ( 1998-2000). Atualmente é Professora Doutora Nível -MS3.2 da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas-FCM/UNICAMP, atuando principalmente nas seguintes áreas: Mamografia e Radiologia Neonatal .

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Bárbara Barros Pereira Lobo

Médica residente R4, sub especialidade em Neonatologia, Departamento de Pediatria FCM, Unicamp.

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