Cateter umbilical venoso mal locado, no átrio esquerdo.
Autoras: Mariana Raeder
Mariana Chiaradia Dominguez
Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Regina Alvares
História Clínica:
Recém - nascido (RN) pré-termo de parto cesariana por sofimento fetal, com idade gestacional (IG) de 33semanas e 3 dias pela amenorréia. Peso ao nascimento de 2290 gramas, sexo feminino, APGAR de 6 imediatamente após o parto e 10 no quinto minuto de vida. Após o nascimento foi diagnosticada fenda palatina com distúrbio de deglutição e flutter atrial, revertido com cardioversão elétrica.
Foram introduzidas sonda nasogástrica e cateter venoso umbilical, este utilizado para nutrição parenteral complementar e procedimentos de rotina. Nas radiografias de controle foi observado que o cateter se encontrava posicionado no átrio esquerdo (Figuras 1 e 2). O cateter foi tracionado e reposicionado (Figuras 3 e 4). O RN recebeu nutrição parenteral por 5 dias através do cateter umbilical.
O RN evoluiu com formação de trombo no átrio direito, sendo submetido à anticoagulação e também com hipotonia, sendo diagnosticada Síndrome Neurológica Apendicular.
Recebeu alta com 22 dias de vida, com alimentação ainda por sonda nasogástrica.
Imagens do Caso
Figura 1- Radiografia de tórax e abdômen, evidenciando cateter umbilical venoso com extremidade visível à esquerda dos corpos vertebrais torácicos em topografia do átrio esquerdo( seta).
Figura 2 - A radiografia em perfil evidencia a extremidade do cateter direcionado posteriormente em topografia do átrio esquerdo(seta).
Figura 3 - Radiografia de tórax e abdome AP evidenciando cateter umbilical venoso bem locado, com extremidade visível sobre o corpo vertebral de T8 (seta).
Figura 4- Radiografia de tórax e abdome P evidenciando a trajetória do cateter umbilical venoso, passando pelo fígado, com extremidade locada na VCI ( seta).
Diagnóstico
Cateter umbilical venoso mal locado, com extremidade no átrio esquerdo (Figuras 1 e 2) com reposicionamento adequado (Figuras 3 e 4).
Discussão:
O cateterismo umbilical venoso e arterial no RN representa um procedimento de rotina em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) neonatais.Estes acessos são utilizados para infusão de medicamentos, coleta de amostras de sangue, assim como para monitorização da pressão arterial e venosa central e exsanguíneotransfusões. Os cateteres umbilicais devem ser substituídos após 5 a 7 dias por cateteres centrais de inserção periférica visando minimizar o risco das complicações como a infecção.
O cateter umbilical venoso é introduzido pela veia umbilical e segue em direção ao ramo esquerdo da veia porta, continuando para o ducto venoso e por fim chegando na porção cefálica da veia cava inferior(VCI), próximo à sua entrada no átrio direito.
Após a passagem do cateter, é de extrema importância o uso de métodos de imagem para assegurar o seu correto posicionamento.
Na radiografia frontal de tórax e abdome, o cateter umbilical venoso apresenta uma trajetória retilínea,devendo sua extremidade estar situada à direita dos corpos vertebrais de T8 e T9, quando situado na veia cava inferior( Figura 3).
Na radiografia em perfil, após sua introdução pelo coto umbilical, o cateter inicialmente apresenta uma localização anterior, cursando a seguir para a parte posterior do abomen em direção ao fígado, sendo visibilizado no nível dos corpos vertebrais de T8 a T9, quando locado na veia cava inferior( figura 4).
Dentre as principais complicações associadas ao uso do cateter umbilical venoso, destaca-se a localização intra-cardíaca, o que pode levar à perfuração atrial, ao tamponamento cardíaco e à arritmias. Algumas vezes, a extremidade do cateter pode passar para o átrio esquerdo através do forâmen oval, ainda patente nesta fase da vida do RN. Nesta situação, as radiografias evidenciam a ponta do cateter em topografia anatômica do átrio esquerdo( Figuras 1 e 2 ).
Após a constatação radiológica desta localização inadequada, o cateter deve ser tracionado, para que sua extremidade fique locada na VCI, cmo ocorreu no presente caso.
Fonte: Acervo didático da Seção de Imaginologia do CAISM/UNICAMP
Fotógrafo: Neder Piagentini do Prado: ASTEC/CAISM/UNICAMP.
Referências:
1.Alvares Br, Dominguez MC. “Avaliação da radiografia de tórax no recém nascido”. In: Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem; Muglia VF, Macedo T, organizadores. PRORAD Programa de Atualização em Radiologia e Diagnóstico por Imagem: Ciclo 5. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2015. p107-53. (Sistema de Educação Continuada a Distância,v.1).
2. Alvares BR, Pereira ICMR, Neto SAA, Sakuma ETI. Achados normais no exame radiológico de tórax do recém-nascido. Radiol Bras. 2006; 39(6):435-440.
3. Kido RYZ, Alvares BR, Mezzacappa MAMS. Cateteres umbilicais em recém nascidos: indicações, complicações e diagnóstico por imagem. Sci Med 2015; 25(1): ID19236
4. Alvares BR, Stopiglia MCS, Mezzacappa MA. Presença de ar no sistema porta hepático associada a cateter umbilical venoso mal locado. Radiol Bras 2014 Jan/Fev;47(1): 49-50.
5. Schlesinger AE, Braverman RM, DiPietro MA. Neonates and Umbilical Venous Catheters: Normal Appearance,Anomalous Positions, Complications, and Potential Aid to Diagnosis. AJR 2003; 180:1147-1153.