Ar no sistema porta relacionado à cateter umbilical venoso mal locado
Autores: Lucas Meira Sarlo
Mariana Chiaradia Dominguez
Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Regina Alvares
História Clínica:
Recém - nascido (RN) com idade gestacional (IG) de 30 semanas e 03 dias. Peso ao nascimento de 1500 gramas. Sexo masculino. APGAR de 7/10 após parto vaginal espontâneo. Paciente nasceu prematuro devido à infecção do trato urinário materno diagnosticada no dia anterior ao parto. Evoluiu após o nascimento com desconforto respiratório e apneia da prematuridade. Iniciada CPAP (Continuous Positive Pressure Airway). RN internado na UTI neonatal. Introduzido cateter venoso umbilical como acesso central.
Nas radiografias de controle foi observado que o cateter se encontrava posicionado na região hepática e havia presença de ar no sistema porta (figuras 1 e 2)
O cateter foi reposicionado, tendo havido regressão do ar portal. Após 4 dias da introdução do cateter, este foi retirado,já com progressão para dieta enteral completa.
Durante a internação, apresentou também quadro de hemorragia peri intraventricular grau I bilateral.
O RN evoluiu com melhora do quadro clínico e estabilidade hemodinâmica, sendo retirado do CPAP com 6 dias de vida. Foi mantido internado para ganho de peso, recebendo alta hospitalar com 34 dias de vida, em aleitamento materno e translactação,com peso de 2005 gramas.
Imagens do Caso:
Figura 1- Radiografia de tórax e abdômen, evidenciando cateter umbilical venoso com extremidade visível em região hepática (seta branca) onde se observa ar no sistema porta (setas pretas). Também é identificada a sonda nasoentérica (seta azul).
Firura 2- A radiografia em perfil confirma os achados radiológicos descritos na figura 1.
Diagnóstico:
Cateter umbilical venoso mal locado com presença de ar no sistema porta.
Discussão:
O cateterismo umbilical venoso representa um procedimento de rotina usado em RNs internados em UTIs neonatais. O cateter é inserido pela veia umbilical e progride para o ramo esquerdo da veia porta, o ducto venoso e a veia cava inferior, onde deve ficar posicionado. É indicado para a infusão de líquidos e medicações, coletar amostras de sangue ou realizar exsanguineotransfusão. Também pode ser utilizado para a monitorização da pressão venosa central.
Radiologicamente, o cateter umbilical venoso apresenta uma trajetória retilínea, devendo ser visibilizado à direita dos corpos vertebrais torácicos entre T8e T9, posição correspondente à veia cava inferior, próxima ao átrio direito. Inadvertidamente, o cateter umbilical venoso pode ser direcionado para o ramo direito da veia porta. Nessa situação pode haver a presença de ar no sistema portal, caracterizando-se radiologicamente por imagens lineares radiolucentes que se estendem até a periferia hepática. Este achado radiológico também pode ocorrer na enterocolite necrosante. O diagnóstico diferencial entre mal posicionamento e enterocolite necrosante depende da correlação com os dados clínicos do RN.
Fonte: Acervo didático da Seção de Imaginologia do CAISM/UNICAMP
Fotógrafo: Neder Piagentini do Prado: ASTEC/CAISM/UNICAMP.
Referências:
1.Alvares Br, Dominguez MC. “Avaliação da radiografia de tórax no recém nascido”. In: Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem; Muglia VF, Macedo T, organizadores. PRORAD Programa de Atualização em Radiologia e Diagnóstico por Imagem: Ciclo 5. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2015. p107-53. (Sistema de Educação Continuada a Distância,v.1).
2. Alvares BR, Pereira ICMR, Neto SAA, Sakuma ETI. Achados normais no exame radiológico de tórax do recém-nascido. Radiol Bras. 2006; 39(6):435-440.
3. Kido RYZ, Alvares BR, Mezzacappa MAMS. Cateteres umbilicais em recém nascidos: indicações, complicações e diagnóstico por imagem. Sci Med 2015; 25(1): ID19236
4. Alvares BR, Stopiglia MCS, Mezzacappa MA. Presença de ar no sistema porta hepático associada a cateter umbilical venoso mal locado. Radiol Bras 2014 Jan/Fev;47(1): 49-50