CDI e hamartoma sincrônicos
Autora: Isabeli Camila Miyoshi
Orientador: Dr. Orlando José de Almeida
História Clínica
Paciente do sexo feminino, 57 anos, encaminhada ao nosso serviço há 3 anos por biópsia prévia com diagnóstico de carcinoma ductal invasivo de tipo não especial (RE 95%, RP 60%, cerB-2 indeterminado e Ki6710%) de nódulo da mama esquerda. Na mamografia prévia ao diagnóstico foram identificados dois nódulos na mama esquerda. Um no QIM irregular, espiculado e hiperdenso (diagnóstico histológico descrito acima) e outro no QSL oval, de densidade mista, sugestivo de hamartoma.
A paciente foi avaliada pela equipe da mastologia, optando-se por quimioterapia neoadjuvante seguida de quadrantectomia e biópsia de linfonodo sentinela, com radioterapia posterior. Já o segundo nódulo apresentava características de hamartoma e foi optado por não se realizar sua excisão, apenas acompanhamento.
Imagens
Figuras 1A e 1B: Primeira mamografia nas incidências MLO e CC. Nódulo com forma irregular, espiculado, hiperdenso, medindo 2,5 cm na mama esquerda, no QIM, terço médio, a 6,5 cm da papila, com diagnóstico prévio de malignidade. Nódulo oval, circunscrito, densidade mista, na mama esquerda, no QSL, medindo 5,0 cm, sugestivo de hamartoma.
Figuras 2A e 2B: Mamografia atual, nas incidências MLO e CC. Alterações cicatriciais no QIM da mama esquerda e nódulo oval, circunscrito, de densidade mista, medindo 5,0 cm, sugestivo de hamartoma.
Figura 3: Ultrassonografia de mamas. Nódulo oval, heterogêneo, margem circunscrita, medindo 44 x 15 x 33 mm no quadrante supero-lateral da mama esquerda, sugestivo de hamartoma.
Diagnóstico final histopatológico
Hamartoma e câncer de mama sincrônicos.
Discussão do caso
Hamartomas são um tipo raro de tumor benigno mamário (ref 1,2,3,6). Também conhecidos como adenolipomas, fibroadenolipomas ou lipofibroadenomas. Ocorrem predominantemente entre a terceira e quarta décadas de vida. Trata-se de uma proliferação de tecido fibroso, glandular e gorduroso (ref 4,5). A fisiopatologia não é muito conhecida, mas acredita-se que resultem de uma disgenesia e não um verdadeiro processo tumoral (ref 1).
A sua apresentação pode ser como nódulo palpável, porém comumente são descobertos incidentalmente durante uma mamografia de rastreamento (ref 1,2,3). A mamografia pode mostrar um nódulo oval, circunscrito, margens bem definidas, com densidade mista. Na ultrassonografia, os hamartomas se mostram como um nódulo heterogêneo, hipoecoico ou hipercoico, oval, com uma pseudocápsula (ref 5). A ecogenicidade do hamartoma é determinada pela quantidade de tecido predominante em sua composição, se houver mais tecido gorduroso será mais hipoecoico, se mais tecido fibroglandular será mais hiperecogênico.
Os hamartomas são raramente associados à malignidade e há muitos poucos estudos relatando essa associação; entretanto, existem relatos de casos da sua coexistência (malignidade dentro de hamartomas) (ref 2,3,6). O evento sincrônico, na mesma mama, e em topografias diferentes é um evento pouco frequente (ref 6).
Apesar dos hamartomas serem considerados tumores mamários raros, cada vez mais são diagnosticados devido à mamografia de rastreamento. Por isso, a importância dos médicos imaginologistas reconhecerem essas lesões e estarem alertas quanto a possíveis características suspeitas.
Referências Bibliográficas:
- Sevim Y, et al. Breast hamartoma: a clinicopathologic analysis of 27 cases and a literature review. Clinics. 2014; 69(8): 515 - 523.
- Choi N, Ko ES. Invasive ductal carcinoma in a mammary hamartoma: case report and review of the literature. Korean J Radiol. 2010;11(6):687–91.
- Kai M, et al. Breast cancer associated with mammary hamartoma. Breast Cancer. 2012. 19(2): 183-186.
- Nazário ACP, Rego MF, Oliveira VM. Nódulos benignos da mama: uma revisão dos diagnósticos diferenciais e conduta. Rev Bras Ginecol Obstet. 2007. 29(4): 211-219.
- Duarte RD, et al. Lesões mamárias incomuns: ensaio iconográfico. Radiol Bras. 2005. 38(5): 371-376.
- So YK, et al. Periductal Stromal Tumor of the Breast with Synchronous Bilateral Breast Cancer. Anticancer Research. 2014. 34(7): 3635-3639.