Mastopatia diabética
Dra. Karla Galvão Araujo
História clínica:
Paciente do sexo feminino, branca, 60 anos, refere áreas endurecidas nas mamas há alguns anos, mais evidentes e maiores nos últimos meses. Possui diagnóstico de diabetes mellitus tipo 1 há 56 anos; em uso de bomba de infusão subcutânea de insulina. Nega procedimentos cirúrgicos mamários prévios.
Exame físico:
Inspeção estática: mamas de pequeno volume, sem alterações cutâneas, massa visível na região retroareolar/ projeção de 12 h da mama direita.
Palpação: nódulos irregulares, de consistência dura, pouco móveis, indolores, localizados na região retroareolar/projeção de 12 h de ambas as mamas, medindo cerca de 30 mm, na mama direita e cerca de 20 mm, na mama esquerda.
Exames de imagem:
Ultrassonografia: nódulos com forma irregular, margens indistintas, paralelos, heterogêneos, com forte sombra acústica posterior, avascularizados ao Doppler, medindo 28 x 15 x 19 mm, na região retroareolar da mama direita e 16 x 10 x 14 mm, na região retroareolar da mama esquerda (BI-RADS US 4C).
nódulo na mama direita
nódulo na mama esquerda
Mamografia: assimetria focal retroareolar na mama direita.
Resultado histológico de material obtido por biópsia de fragmento: fibrose e atrofia lobular bilateral.
Discussão:
Mastopatia diabética é uma doença fibrótica benigna das mamas incomum, que ocorre em pacientes com diabetes mellitus. É mais conhecida sua associação com a diabetes tipo 1, porém pode também ocorrer em pacientes com diabetes tipo 2. Em um estudo recente, Kim e colaboradores relataram uma duração média de diabetes mellitus de 19,5 anos (variação de 4 a 39 anos).
A etiologia da doença ainda não foi esclarecida. Uma das hipóteses etiológicas está relacionada à hiperglicemia. A hiperglicemia causa aceleração da glicosilação e níveis excessivos dos produtos finais dessa reação química poderiam induzir uma resposta autoimune, causando infiltração linfocítica e fibrose. Outra teoria considera o envolvimento da mama por uma doença autoimune sistêmica, devido às semelhanças dos achados histológicos com os observados na tireoidite de Hashimoto e na síndrome de Sjogren. Uma terceira hipótese sugere que o uso da insulina exógena, seu veículo e contaminantes induzem reações imunes que causam a mastopatia diabética.
As pacientes relatam massas palpáveis na maioria os casos, mas também podem ser assintomáticas. A mastopatia diabética pode ser descoberta como achado incidental na ultrassonografia ou no rastreamento mamográfico.
A ultrassonografia geralmente apresenta resultado suspeito de malignidade, sendo BI-RADS US 4 a classificação mais frequente. O achado mais comum encontrado na ultrassonografia é o de imagem nodular sólida, com forma irregular, margens indistintas, paralela, heterogênea, com sombra acústica posterior, sem vascularização ao Doppler. Os achados na mamografia costumam ser negativos, mas assimetrias também são relatadas.
Os resultados histológicos incluem fibrose, infiltração linfocítica ductal e lobular , vasculite linfocítica, atrofia lobular e fibroblastos epitelioides. Tais achados não são exclusivos da mastopatia diabética.
O conflito entre os achados observados na ultrassonografia e na mamografia pode ser útil no diagnóstico. A punção aspirativa com agulha fina frequentemente fornece material insuficiente para análise citológica. A biópsia percutânea com agulha grossa para investigação histológica é necessária, já que os métodos de imagem não podem diferenciar a mastopatia diabética do câncer de mama.
Referências:
Diabetic mastopathy: imaging features and the role of image-guided biopsy in its diagnosis. Kim et al. 2016.
Diabetic mastopathy, a clinicopathological correlation of 34 cases. Dorokhova et al., 2012.
Diabetic mastopathy, clinical presentation, imaging and histologic findings and treatment. Selma et al., 2011.
Diabetic mastopathy. A clinicopathologic review. Kim et al., 2000.