Abdômen agudo obstrutivo pós-operatório
Autor: André Henrique Miyoshi
Orientadores: Profa. Dra. Beatriz Regina Alvares
Prof. Dr. Rodrigo Menezes Jales
História Clínica: Mulher de 35 anos retorna ao hospital 9 dias após ter sido submetida a histerectomia total via abdominal indicada por miomatose uterina. Queixa-se de dor abdominal e vômitos há dois dias e constipação desde a cirurgia. Na propedêutica abdominal foram descritos o abdômen difusamente doloroso e distendido, manobra da descompressão brusca negativa e a diminuição de ruídos hidroaéreos.
Hipótese diagnóstica: Ílio paralítico ou obstrução intestinal
Conduta: Jejum, sonda nasogástrica, controle hidroeletrolítico, medicação sintomática e exames de imagem.
![]()
Radiografia simples de abdomen realizada em decúbito dorsal, com raios verticais, demonstra significativa dilatação de alças intestinais observando-se o aspecto característico das pregas coniventes do intestino delgado. Ausência de ar no intestino grosso.
![]()
Radiografia simples de abdomen em posição ortostática, com raios horizontais, demonstra níveis hidroaéreos nas alças intestinasi de delgado, alguns em diferentes alturas, caracterizando processo obstrutivo intestinal.
![]()
Radiografia de tórax na incidência frontal, evidenciando áreas de atelectasia laminar em ambos os pulmões, melhor identificadas à esquerda. Presença de pequeno derrame pleural à esquerda.
![]()
Reconstrução coronal de tomografia computadorizada, demonstrando a significativa dilatação das alças de intestino delgado.
Evolução:
Durante 5 dias a paciente não respondeu às medidas clínicas prescritas, o que levou ao diagnóstico de abdômen agudo obstrutivo (AAO). Indicada laparotomia exploradora. Durante o procedimento cirúrgico foram desfeitas aderências intestinais grosseiras no íleo terminal e entre o íleo e o sigmóide a um metro a partir da válvula íleo-cecal. As alças intestinais estavam espessadas e inflamadas. A paciente teve alta hospitar em bom estado geral após 8 dias da cirurgia.
Discussão:
Após a laparotomia é comum haver a diminuição dos movimentos peristálticos devido aos reflexos viscero motor e parieto visceral. Esse quadro é denominado ílio paralítico ou simplesmente “íleo” e costuma ser complicado por desidratação e/ou distúrbios hidroeletrolíticos. O ílio paralítico costuma ser uma condição autolimitado e responder ao tratamento clínico. A persistência ou a piora dos sintomas sugere a possibilidade de outra condição, como a obstrução intestinal mecânica. O Abdome Agudo Obstrutivo (AAO) é causado em cerca de 75% dos casos por aderência das alças após laparotomias. Outras etiologias do AAO são: hérnia estrangulada, fecaloma, obstrução pilórica, volvo intussuscepção, cálculo biliar, corpo estranho e bolo de áscaris.
Sintomatologia
A sintomatologia mais comum do AAO são as dores abdominais em cólicas, náuseas e vômitos, parada eliminação de fezes e flatos, além de distensão abdominal progressiva. Na propedêutica do abdome costuma-se achar o abdome distendido, sons hipertimpânicos, além de aumento dos ruídos hidroaéreos no início e diminuição até ausência dos ruídos durante a evolução do caso.
Tratamento
Confirmado, o AAO deve ser tratado cirurgicamente, com o inventário e a lavagem da cavidade abdominal e a correção de volvos e/ou bridas.
Utilidade do raio-X de abdômen no AAO
O raio-X de abdômen é utilizado para confirmar a suspeita clínica de obstrução. O exame também pode mostrar a extensão e o nível da obstrução (intestino delgado ou cólon) e, ocasionalmente, a sua causa, como, por exemplo, a presença de um corpo estranho. São realizadas habitualmente duas incidências do abdômen, uma em decúbito dorsal horizontal e a outra em posição ortostática com raios horizontais. Nas situações em que o paciente não apresenta condições clínicas para permanecer em pé, pode-se realizar no lugar da incidência ortostática, a incidência em decúbito lateral. As incidências ortostática ou em decúbito lateral visam a identificação de níveis líquidos. O calibre máximo esperado para as alças intestinais no raio-X abdominal é < 3cm para o intestino delgado, < 6cm para o intestino grosso e < 9cm para o ceco. Quanto mais extensa for o segmento dilatado, maior é a possibilidade de obstrução. Outro achado sugestivo de obstrução é a ausência de ar no reto.
Utilidade do raio-x de tórax no AAO
Nos casos de abdômen está indicada a realização de um raio-x de tórax (incidência anteroposterior). Esse exame tem a finalidade de diagnosticar alterações torácicas que podem complicar ou justificar o quadro clínico. No caso estudado, diagnosticaram-se a atelectasia do pulmão e pequeno derrame pleural à esquerda, justificadas pela insuficiência ventilatória restritiva causada pela dor abdominal.
Referências:
1 - Brunetti A, Scarpelini S. Acute abdomen. Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (3): 358-67, july/set.

