O que são e para que servem as regras simples (simple rules) do grupo iota?

Fev de 2016.

          As regras simples consistem em dez critérios ultrassonográficos simples de serem interpretados: 5 benignos e 5 malignos. Foram determinados pelo grupo International Ovarian Tumor Analysis (IOTA) para a classificação ultrassonográfica pré-operatória das massas anexiais. Essa avaliação é útil pois as massas anexiais classificadas como benignas podem ser tratadas mais conservadoramente, por ginecologistas sem especialização em oncologia. Por outro lado, quando as massas são classificadas como malignas, as pacientes precisam ser encaminhadas para um centro de referência em ginecologia oncológica, onde receberão o tratamento mais adequado, o que inclui o estadiamento e o "debulking" cirúrgicos. A maior parte das massas anexiais podem ser classificadas como benignas ou malignas pelas regras simples. Entretanto, em cerca de um quarto das pacientes, as regras simples são inconclusivas. Nesses casos o grupo IOTA recomenda a reavaliação dessas pacientes por médicos especialistas na avaliação ultrassonográfica das massas pélvicas. Esses especialistas poderão reclassificar os achados ultrassonográficos de forma subjetiva ou através de modelos matemáticos mais complexos como a regressão logística (logistic regression 1 (LR1) e/ou logistic regression 2 (LR2)). Os casos inconclusivos também podem ser reclassificados através da ressonância magnética com contraste.

Regras Simples segundo o International Ovarian Tumor Analysis (IOTA)

Critérios benignos:

1- Cisto unilolular

2- Presença de componente sólido com diâmetro máximo < 7 mm

3- Presença de sombra acústica

4- Cisto multilocular com paredes lisas, desde que o maior diâmetro seja < 100 mm

5- Ausência de fluxo ao Doppler ( índice de cor = 1)

 

Critérios malignos:

1- Tumor sólido com paredes irregulares.

2- Presença de ascite

3- Quatro ou mais projeções papilares

4- Tumor multilocular sólido, com contornos irregulares e maior diâmetro ≥ 100 mm.

5- Vascularização intensa ao Doppler (índice de cor 4)

 

  • Para ser classificada como BENIGNA, a lesão precisa apresentar ao menos um critério benigno (B) e nenhum critério maligno (M).

  • Para ser classificada como MALIGNA, a lesão precisa apresentar ao menos um critério maligno (M) e nenhum critério benigno (B).

  • Nas lesões com critérios benignos e malignos , ou sem nenhum critério benigno  ou maligno, as regras simples são INCONCLUSIVAS.

 

Exemplos da aplicação das regras simples do IOTA:

 

Paciente com 38 anos com massa anexial palpável à esquerda. A ultrassonografia transvaginal mostra cisto multilocular (2 loculações), com ecotextura mista, sem componente sólido, medindo 6 cm, sem vascularização (IC=1), nem ascite. Conclusão: Cisto benigno segundo as regras simples do IOTA. Além disso, o padrão ecográfico sugeria endometrioma. O cisto foi retirado por laparoscopia cirúrgica pela equipe de ginecologia, que também diagnosticou e tratou múltiplos focos de endometriose superficial peritoneal. O diagnóstico anatomopatológico confirmou um ENDOMETRIOMA OVARIANO.

 


 

Paciente de 59 anos foi submetida a ultrassonografia transvaginal para avaliação de dor pélvica crônica inespecífica, que identificou um cisto ovariano à esquerda, descrito à ultrassonografia transvaginal como unilocular-sólido, com sombra acústica posterior. O componente sólido mediu 7mm. Não foi identificada vascularização ao Doppler (IC=1), nem ascite. Classificação pelas regras simples do IOTA: Benigno. A paciente realizou ooforectomia à esquerda pela equipe de ginecologia . O diagnóstico anatomopatológico revelou CISTADENOFIBROMA OVARIANO.

 


 

 

Paciente de 22 anos com aumento do volume abdominal. A ultrassonografia mostrou massa ovariana à direita, sólida irregular, hipervascularizada (IC=4), sem sobra, nem ascite. Classificação pelas regras simples do IOTA: Maligno. A paciente foi tratada com cirurgia e quimioterapia pela equipe da ginecologia oncológica de um centro especializado. O diagnóstico Anatomo patotógico mostrou um DISGERMINOMA OVARIANO.

 


Referêcias:

1. Predicting the risk of malignancy in adnexal masses based on the Simple Rules from the International Ovarian Tumor Analysis (IOTA) group. Am J Obstet Gynecol. 2016 Apr;214(4):424-37.

2. Simple ultrasound rules to distinguish between benign and malignant adnexal masses before surgery: prospective validation by IOTA group. BMJ 2010;341:c6839.

3. Pereira PN, Sarian LO, Yoshida A, Araújo KG, Silva ACB, de Oliveira Barros RH, Jales RM, Derchain S. Improving the performance of IOTA simple rules: sonographic assessment of adnexal masses with resource-effective use of a magnetic resonance scoring (ADNEX MR scoring system). Abdom Radiol (NY). 2019 Sep 3. doi: 10.1007/s00261-019-02207-9.

 

 

JALES, Rodrigo Menezes COSTA, Ana Clara. O que são e para que servem as regras simples (simple rules) do grupo iota?. Dr.Pixel. Campinas: Dr Pixel, 2016. Disponível em: https://drpixel.fcm.unicamp.br/conteudo/o-que-sao-e-para-que-servem-as-regras-simples-simple-rules-do-grupo-iota. Acesso em: 26 Abr. 2024
Rodrigo Menezes Jales

Possui graduação em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (1999), Mestrado (2005) e Doutorado (2012) em Oncologia Ginecológica e Mamária (DTG-FCM / UNICAMP). 

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Ana Clara Gonçalves Reis Costa

Médica graduada pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ginecologista e Obstetra pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Atualmente, em especialização em Ultrassonografia em Ginecologia e Obstetrícia pela Faculdade de Ciências Medicas - FCM/UNICAMP

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