Injeção de silicone industrial intramamário - aspectos mamográficos
Autora: Pamela Castro Pereira
Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Regina Alvares
Historia clínica
Paciente do sexo feminino, 41 anos, procurou serviço médico no Centro de Atenção Integral à Mulher (CAISM – UNICAMP) com queixa de descarga papilar sanguinolenta.
Ao exame físico das mamas não foram encontradas alterações nas inspeções estática ou dinâmica. À palpação não foram encontradas alterações, porém houve expressão papilar sanguinolenta bilateralmente.
Antecedentes pessoais Tratamento para SIDA há 8 anos; portadora do vírus da hepatite C; tabagista ( 10 maços/ano).Relata injeção de silicone industrial nas mamas há 10 anos.
Hipótese Diagnóstica: siliconoma
Paciente realizou mamografia para esclarecimento diagnóstico.
Conduta: não foi realizada abordagem cirúrgica devido às comorbidades associadas e à discordância da paciente em realizar mastectomia seguida de reconstrução mamária. Paciente segue realizando mamografias e ultrassonografias anuais.
Descrição das imagens
O exame mamográfico realizado nas incidências Crânio Caudal (CC) e Médio Lateral Oblíqua( MLO) evidencia densidades heterogênas hiperdensas, distribuídas difusamente em ambas as mamas, compatíveis com silicone intramamário.
Diagnóstico
Siliconoma devido à injeção de silicone líquido industrial intramamário.
Discussão
- Existem basicamente 3 tipos de apresentação do silicone: líquido, gel e elastômero. A injeção de silicone líquido com finalidade estética teve o seu auge nos anos 1950, porém as complicações agudas e crônicas que causava no organismo humano levaram o Food and Drug Administration (FDA) a proibirem seu uso em 1994, sendo a única exceção para o tratamento de descolamento de retina.
- Entre as complicações da injeção de silicone líquido temos: processos inflamatórios localizados; formação de siliconomas; infecções e necroses teciduais; migração do silicone pelos vasos linfáticos, pelos venosos ou mesmo pela força da gravidade. As manifestações dessas complicações podem ser agudas, como edema ou eritema, ou tardias, como reações granulomatosas.
- O termo siliconoma popularizou-se em meados de 1965 para se referir a uma reação tipo corpo estranho. A forma irregular do silicone impede sua fagocitose, levando à formação de granulomas, tendo suas partículas maiores sendo encapsuladas por tecido fibroso.
- A formação de reação fibrótica e de múltiplas coleções de silicone compromete o exame físico das mamas e a avaliação das mamas por métodos de imagem, como mamografia. Dessa forma, dificulta a detecção de lesões mamárias, inclusive a do câncer de mama.
- Pode ser feito tratamento com anti-inflamatórios, corticoides e antibióticos sistêmicos nos casos que se apresentarem como eritema, edema e celulite. A remoção completa do silicone líquido é difícil pela sua localização e formação de tecido fibroso. O tratamento mais indicado é adenomastectomia para remoção do siliconoma mamário e tratamento da mastite crônica, sendo realizada posteriormente a reconstrução mamária.
Fonte: Acervo didático da Seção de Imaginologia do CAISM/UNICAMP
Fotógrafo: Neder Piagentini do Prado: ASTEC/CAISM;UNICAMP.
Referências
- Avaliação da mama com implante pelos diversos métodos de imagem (mamografia, ultra-sonografia e ressonância magnética). Maria Helena Louveira et al. Revista Imagem 2003: 25(3):185-194.
- Siliconomas. Marilho Tadeu Dornelas et al . Rev. Bras. Cir. Plást. 2011; 26(1): 16-21.
- Complicações locais após a injeção de silicone líquido industrial - série de casos. Daniel Francisco Mello et al . Rev. Col. Bras. Cir. 2013; 40(1): 037-043.