Hemangioma Hepático Gigante
Caso Clínico:
Recém-nascido do sexo masculino, de termo, adequado para idade gestacional (39 semanas e 2 dias) com parto cesárea, evoluindo para hipóxia necessitando oxigenioterapia por máscara aberta e internação em UTI neonatal. Apresentava seguimento em centro terciário por tumoração hepática detectada em ultrassonografias obstétricas. Evolução para estabilidade clínica com melhora da hipóxia e realização de tomografia computadorizada com contraste no 5º dia de vida.
Achados de imagem:
Fígado com lobo esquerdo de dimensões acentuadamente aumentadas em função de grande lesão heterogênea, com focos de calcificação e hipoatenuações de permeio e realce nodular periférico descontínuo com gradual enchimento central. A lesão ocupa o mesogastro e flanco esquerdo, com efeito de massa sem evidência de invasão parietal sobre as estruturas adjacentes.
Nota-se acentuada dilatação das veias suprahepáticas e da veia cava inferior, assim como o tronco celíaco e artéria hepática comum.
Figura 1: Tomografia computadorizada com contraste (fase portal). Corte coronal mostrando lobo esquerdo hepático de dimensões aumentadas em função de grande lesão heterogênea.
Figura 2: Tomografia computadorizada com contraste. Cortes axiais mostrando lesão heterogênea com focos de calcificação e hipoatenuações de permeio (A), assim como realce nodular periférico descontínuo em gradual enchimento central (B, C, D). A- fase sem contraste. B – fase arterial. C – fase portal. D – fase tardia.
Figura 3: Tomografia computadorizada com contraste (fase portal). Corte axial com reconstrução multiplanar MIP (Projeção de Intensidade Máxima) evidenciando acentuada dilatação das veias supra-hepáticas e veia cava inferior.
Figura 4: Tomografia computadorizada com contraste (fase arterial). Corte sagintal com reconstrução multiplanar MIP (Projeção de Intensidade Máxima) evidenciando dilatação do tronco celíaco e artéria hepática comum.
Diagnóstico: Hemangioma Hepático Gigante
Patologia:
Malformações venosas hepáticas de aparente origem congênita e não neoplásica.
Na literatura a definição dimensional para o termo “gigante” não apresenta um consenso definido, com limites superiores variando de > 4 cm, > 6 cm, > 10 cm ou até 12 cm de diâmetro.
Os hemangiomas hepáticos gigantes são considerados apresentações atípicas de hemangiomas, em função de suas dimensões e características de imagem.
Possibilidade de apresentar áreas de liquefação/necrose central, hemorragia, calcificação periférica, fibrose e trombose.
Apresentação clínica:
Maioria dos pacientes são assintomáticos com o hemangioma sendo achado incidental.
Desconforto abdominal e hepatomegalia podem ser observados.
Efeito compressivo em estruturas adjacentes (via biliar e estruturas vasculares) podem levar a apresentações clínicas específicas.
Hemorragia e ruptura podem ocorrer, notadamente no contexto posterior à trauma ou biópsia.
Epidemiologia:
Maior prevalência do sexo feminino para o masculino (2-5:1).
Diagnóstico usual na meia idade (40-60 anos).
Associações:
- Hemangiomas hepáticos múltiplos.
- Hemangiomatose hepática.
Achados de imagem:
-Ultrassonografia: grande lesão focal hepática, normalmente heterogênea, com aparência variando de acordo com o parênquima hepático adjacente. Reforço acústico posterior e centro hipoecogênico podem ser observados.
-Tomografia computadorizada: Em tomografias sem contraste, as lesões aparecem hipoatenuantes e heterogêneas com áreas centrais marcadas de baixa atenuação. Após a administração intravenosa de material de contraste, o típico realce globular precoce, periférico, é observado. Porém, durante as fases venosa e tardia, o realce centrípeto progressivo da lesão, embora presente, não leva ao enchimento completo.
-Ressonância Magnética: Na ressonância magnética, as sequências ponderadas em T1 mostram uma massa hipointensa com margens bem definidas com uma área semelhante a uma fenda de menor intensidade e, às vezes, com septos internos hipointensos. Imagens ponderadas em T2 mostram uma área acentuadamente hiperintensa semelhante a uma fenda e alguns septos internos hipointensos dentro de uma massa hiperintensa. O realce é equivalente ao da TC, com preenchimento incompleto da lesão; a área fissurada permanece hipointensa, assim como os septos internos.
Complicações:
Efeito de massa sobre estruturas adjacentes como vias biliares e estruturas vasculares.
Síndrome de Kasabach-Merritt (coagulação intravascular disseminada).
Diagnósticos Diferenciais:
O diagnóstico diferencial de hemangiomas heterogêneos inclui todos os tumores hepáticos que apresentam cicatriz, como hiperplasia nodular focal, adenoma hepatocelular, carcinoma hepatocelular e colangiocarcinoma intra-hepático. A Ressonância Magnética ou cintilografia é útil para confirmar o diagnóstico de um hemangioma grande e heterogêneo.
Prognóstico e Tratamento:
Em geral, o manejo dos hemangiomas regulares é conservador. No entanto, os hemangiomas gigantes podem requerer tratamento agressivo secundário aos sintomas do paciente, que geralmente são causados pelo efeito de massa da lesão nas estruturas adjacentes. As técnicas não cirúrgicas incluem embolização arterial, com radioterapia e terapia com interferon na população pediátrica. O tratamento cirúrgico inclui ressecção hepática, enucleação, ligadura da artéria hepática ou transplante de fígado.
Referências:
1) Coumbaras M, Wendum D, Monnier-cholley L et-al. CT and MR imaging features of pathologically proven atypical giant hemangiomas of the liver. AJR Am J Roentgenol. 2002;179 (6): 1457-63.
2) Vilgrain V, Boulos L, Vullierme MP et-al. Imaging of atypical hemangiomas of the liver with pathologic correlation. Radiographics. 20 (2): 379-97.
3) Prasanth M. Prasanna, Scott E. Fredericks, Steven S. Winn, and Robert A. Christman. Giant Cavernous Hemangioma. RadioGraphics 2010 30:4, 1139-1144.